Pucarinhos dos namorados
de Ana Caldas
«...nesses tempos vivia-se do barro, era o sustento de toda a gente. Esta aldeia era chamada a aldeia dos púcaros e dos pucareiros. Casa sim, casa não, era um oleiro. Era necessário marcar vez no forno para cozer a fornada. Ensacava-se a loiça com feno e palha; punha-se nos burros e mulas e ia-se para as feiras ou para a troca.»
Memórias de uma Oleira de Vilar de Nantes, 2011
Remeto a ideia desta peça para o imaginário colectivo onde o comércio da cerâmica negra de Bisalhães na Feira dos Pucarinhos ou de São Pedro era presença forte na vida da maior parte dos oleiros da região transmontana.
Além deste aspecto, os pequenos pucarinhos, isolados ou em conjunto, presos a um cordão de seda, significavam um vínculo afectivo, um símbolo de bemaventurança entre namorados.
Numa outra vertente, a leitura desta peça relembra que a união faz a força – não só necessária entre os actuais artífices oleiros para manterem a tradição e terem visibilidade (agora com reconhecimento da Unesco), mas também numa perspectiva de continuidade, adaptando técnicas a estéticas contemporâneas.
Transportamos na memória o símbolo e o significado.
E assim o ritual nasce.